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sábado, 30 de junho de 2012

A décima perseguição da igreja Diocleciano 303 d.C.

 

Sob os imperadores romanos, a comumente chamada Era dos Mártires, foi ocasionada em parte pelo aumento no número dos cristãos e por suas crescentes riquezas, e pelo ódio de Galério, o filho adotivo de Diocleciano, quem, estimulado por sua mãe, uma fanática pagã, nunca deixou de empurrar o imperador para que iniciasse esta perseguição até lograr seu propósito.

O dia fatal fixado para o começo da sangrenta obra era o 23 de fevereiro de 303, o dia em que se celebrava a Terminalia, e no qual, como se jactavam os cruéis pagãos, esperavam acabar com o cristianismo. No dia indicado começou a perseguição em Nicomédia, na manhã da qual o prefeito da cidade acudiu, com grande número de oficiais e xerifes, até a igreja dos cristãos onde, forçando as portas, tomaram todos os livros sagrados e os lançaram às chamas.

Toda esta ação teve lugar em presença de Diocleciano e Galério, os quais, não satisfeitos com queimar os livros, fizeram derruir a igreja sem deixar rasto. Isto foi seguido por um severo édito, ordenando a destruição de todas as outras igrejas e livros dos cristãos; pronto seguiu uma ordem, para proscrever os cristãos de todas as denominações.

A publicação deste édito ocasionou um martírio imediato, porque um atrevido cristão não só o arrancou do lugar onde estava colocado, senão que execrou o nome do imperador por esta injustiça. Uma provocação assim foi suficiente para atrair sobre si a vingança pagã; foi então arrestado, severamente torturado, e finalmente queimado vivo.

Todos os cristãos foram presos e encarcerados; Galério ordenou em privado que o palácio imperial fosse incendiado, para que os cristãos fossem acusados de incendiários, dando assim uma plausível razão para levar a cabo a perseguição com a maior das severidades. Começou um sacrifício geral, o que ocasionou vários martírios. Não se fazia distinção de idade nem de sexo; o nome de cristão era tão odioso para os pagãos que todos imediatamente caíram vítimas de suas opiniões. Muitas casas foram incendiadas, e famílias cristãs inteiras pereceram nas chamas; a outros foram amarradas pedras no pescoço, e amarrados juntos foram lançados no mar. A perseguição se fez geral em todas as províncias romanas, mas principalmente no leste. Por quanto durou dez anos, é impossível determinar o número de mártires, nem enumerar as várias formas de martírio.

Potros, chicotes, espadas, adagas, cruzes, veneno e fome se empregaram nos diversos lugares para dar morte aos cristãos; e se esgotou a imaginação no esforço de inventar torturas contra pessoas que não tinham cometido crime algum, senão que pensavam de modo distinto dos seguidores da superstição.

Uma cidade de Frigia, totalmente povoada por cristãos, foi queimada, e todos os moradores pereceram nas chamas.

Cansados da matança, finalmente, vários governadores apresentaram ante a corte imperial o inapropriado de tal conduta. Por isso muitos dos cristãos foram eximidos de serem executados mas, embora não eram mortos, se fazia de tudo para fazê-lhes a vida miserável; a muitos cortaram as orelhas, os narizes, tiravam o olho direito, inutilizavam seus membros mediante terríveis deslocações, e queimavam suas carnes em lugares visíveis com ferros candentes.

É necessário agora indicar de maneira particular as pessoas mais destacadas que deram sua vida em mártir nesta sangrenta perseguição.

Sebastião, um célebre mártir, tinha nascido em Narbona, nas Gálias, e depois chegou a ser oficial da guarda do imperador em Roma. Permaneceu um verdadeiro cristão em meio da idolatria. Sem deixar-se seduzir pelos esplendores da corte, sem manchar-se pelos maus exemplos, e incontaminado por esperanças de ascensão. Recusando cair no paganismo, o imperador o fez levar a um campo perto da cidade, chamado Campo de Marte, e que ali o matassem com flechas; executada a sentença, alguns piedosos cristãos acudiram ao lugar da execução, para dar sepultura ao corpo, e perceberam então que havia ainda sinais de vida em seu corpo; levaram-no de imediato para um lugar seguro, e em pouco tempo recuperou-se, preparando-se para um segundo martírio, pois tão pronto com pôde sair se colocou intencionalmente no caminho do imperador quando este subia rumo ao templo, e o repreendeu pelas muitas crueldades e irrazoáveis prejuízos contra o cristianismo. Diocleciano, quando pôde recuperar-se de seu assombro, ordenou que Sebastião fosse apreendido e levado a um lugar perto do palácio, e ali espancado até morrer; e para que os cristãos não conseguissem nem recuperar nem sepultar seu corpo, ordenou que fosse lançado no esgoto. Não obstante, uma dama cristã chamada Lucina achou o modo de tirá-lo dali e de sepultá-lo nas catacumbas, ou nichos dos mortos.

Para este tempo os cristãos, depois de uma séria consideração, pensaram que era ilegítimo portar armas sob as ordens de um imperador pagão. Maximiliano, o filho de Fábio Vitor, foi o primeiro decapitado sob esta norma.

Vito, siciliano de uma família de alta linhagem, foi educado como contudo; ao aumentar suas virtudes com o passar dos anos, sua constância através de todas as aflições e sua fé foi superior aos maiores perigos. Seu pai Hylas, que era pagão, ao descobrir que seu filho tinha sido instruído nos princípios do cristianismo pela ama-de-leite que o havia criado, empregou todos seus esforços para voltá-lo ao paganismo, e no final sacrificou seu filho aos ídolos, o 14 de junho de 303 d.C.

Vitor era um cristão de boa família em Marselha, na França; passava grande parte da noite visitando os aflitos e confirmando os fracos; esta piedosa obra não podia ser levada a cabo durante o dia de maneira consoante com sua própria segurança; gastou uma fortuna em aliviar as angústias dos cristãos pobres. Finalmente, porém, foi arrestado por édito do imperador Maximiano, que ordenou que fosse amarrado e arrastado pelas ruas. Durante o cumprimento desta ordem foi tratado com todo tipo de crueldades, e indignidades pelo enfurecido populacho. Continuando inflexível, seu valor foi considerado como obstinação. Se ordenou que fosse colcado no potro, e ele voltou seus olhos para o céu, orando a Deus que lhe desse paciência, trás o qual sofreu as torturas com a mas admirável inteireza. Cansados os carrascos de atormentá-lo, foi levado a uma masmorra. Neste encerro converteu seus carcereiros, chamados Alexandre, Feliciano e Longino. Sabendo o imperador disto, ordenou que fossem executados de imediato, e os carcereiros foram por isso decapitados. Vitor foi novamente colocado no potro, espancado com varas sem misericórdia, e de novo lançado na prisão. Ao ser interrogado pela terceira vez acerca de sua religião, perseverou em seus princípios; trouxeram então um pequeno altar e lhe ordenaram de imediato oferecer incenso sobre ele. Inflamado de indignação ante tal petição, adiantou-se valorosamente, e com um chute derrubou o altar e o ídolo. Isto enfureceu de tal modo a Maximiano, que estava presente, que ordenou que o pé que tinha batido o altar fosse de imediato amputado; depois Vitor foi lançado num moinho, e destrocado pelas pás no 303 d.C.

Estando Máximo, governador da Cilícia, em Tarso, fizeram comparecer perante ele três cristãos; seus nomes eram Taraco, um ancião, Probo e Andrônico. Depois de repetidas tortutas e exortações para que se retratassem, foram finalmente levados à sua execução.

Conduzidos ao anfiteatro, soltaram várias feras, mas nenhum dos animais, embora faminto, quis tocá-los. Inteira o imperador tirou um grande urso, que naquele mesmo dia tinha destruído três homens; porém tanto este voraz animal como uma selvagem leoa recusaram tocar nos prisioneiros. Ao ver impossibilitado seu desígnio por meio das feras, Máximo ordenou sua morte por espada, o 11 de outubro de 303 d.C.

Romano, natural da Palestina, era diácono da igreja de Cesaréia na época do começo da perseguição de Diocleciano. Condenado por sua fé em Antioquia, foi flagelado, colocado no potro, seu corpo foi desgarrado com ganchos, sua carne cortada com facas, seu rosto marcado; tiraram-lhe os dentes a golpes, e arrancaram-lhe o cabelo desde as raízes. Pouco depois ordenaram que fosse estrangulado. Era o 17 de novembro de 303.

Susana, sobrinha de Caio, bispo de Roma, foi pressionada pelo imperador Diocleciano para casar com um nobre pagão, que era um parente próximo do imperador. Recusando a honra que lhe era proposta, foi decapitada por ordem do imperador.

Dorotéu, o grande mordomo da casa de Diocleciano, era cristão, e se esforçou muito por ganhar convertidos. Em seu trabalho religioso foi ajudado por Gorgônio, outro cristão, que pertencia ao palácio. Foram primeiro torturados e logo estrangulados.

Pedro, um eunuco que pertencia ao imperador, era um cristão de uma singular modéstia e humildade. Foi colocado numa grelha e assado a fogo lento até expirar.

Cipriano, conhecido como O Mágico, para distingui-lo do Cipriano bispo de Cartago, era natural de Antioquia. Recebeu uma educação acadêmica em sua juventude, e se aplicou de maneira particular à astrologia; depois disso, viajou para ampliar conhecimentos, indo pela Grécia, o Egito, a índia, etc. com o passar do tempo conheceu a Justina, uma jovem dama de Antioquia, cujo nascimento, beleza e qualidades suscitavam a admiração de todos os que a conheciam. Um cavaleiro pagão pediu a Cipriano que o ajudasse a conseguir o amor da bela Justina; empreendendo ele esta tarefa, pronto foi, apesar de tudo, convertido, queimou seus livros de astrologia e mágica, recebeu o batismo e sentiu-se animado pelo poderoso espírito da graça. A conversão de Cipriano exerceu um grande efeito sobre o cavaleiro pagão que lhe pagava suas gestões com Justina, e pronto ele mesmo abraçou o cristianismo. Durante as perseguições de Diocleciano, Cipriano e Justina foram apressados como cristãos; o primeiro foi desgarrado com pinças e a segunda, açoitada; depois de sofrer outros tormentos, ambos foram decapitados.

Eulália, uma dama espanhola de família cristã, era notável em sua juventude por eu gentil temperamento, e por sua solidez de entendimento, poucas vezes achado nos caprichos dos anos juvenis. Apressada como cristã, o magistrado tentou das maneiras mais suaves ganhá-la para o paganismo, mas ela ridicularizou as deidades pagãs com tanta aspereza que o juiz, enfurecido por sua conduta, ordenou que fosse torturada. Assim, seus costados foram desgarrados com ganchos, e seus peitos queimados do modo mais espantoso, até que expirou devido à violência das chamas; isto aconteceu em dezembro de 303.

No ano 304, quando a perseguição alcançou a Espanha, Daciano, governador de Tarragona, ordenou que Valério, o bispo, e Vicente, o diácono, foram apressados, acorrentados e encarcerados. Ao manter-se firmes os presos em sua resolução, Valério foi desterrado, e Vicente colocado no potro, deslocando seus membros, desgarrando a carne com ganchos, e sendo colocado sobre uma grelha, não só colocando fogo embaixo dele, senão também ferroes acima, que atravessavam a carne. Ao não destruí-lo estes tormentos, nem fazê-lo mudar de atitude,foi devolvido à prisão, confinado numa pequena e imunda masmorra, semeada de pedras de sílex aguçadas e de cacos de vidro, onde morreu o 22 de janeiro de 304. seu corpo foi lançado no rio.

A perseguição de Diocleciano, começou a endurecer-se de modo particular no ano 304, quando muitos cristãos foram torturados de maneira cruel e mortos com as mortes mais penosas e ignominiosas. Deles enumeraremos os mais eminentes e destacados.

Saturnino, um sacerdote de Albitina, cidade da África, foi, depois de sua tortura, enviado de novo na prisão, onde foi deixado para morrer de fome. seus quatro filhos, depois de terem sido atormentados de várias formas, partilharam a mesma sorte com seu pai.

Dativas, um nobre senador romano; Telico, um piedoso cristão; Vitória, uma jovem dama de uma família de alta estirpe e fortuna, com alguns outros de classes sociais mais humildes, todos eles discípulos de Saturnino, foram torturados de forma similar, e pereceram do mesmo modo.

Ágape, Quiônia e Irene, três irmãs, foram encarceradas em Tessalônica, quando a perseguição de Diocleciano chegou à Grécia. Foram queimadas, e receberam nas chamas a coroa do martírio o 25 de março de 304. o governador, ao ver que não podia causar impressão alguma sobre Irene, ordenou que fosse exposta nua pelas ruas, e quando esta vergonhosa ordem foi executada, se acendeu um fogo perto da muralha da cidade, entre cujas chamas subiu seu espírito, indo além da crueldade humana.

Agato, homem de piedosa mente, e Cassice, Felipa e Eutíquia, foram todos martirizados na mesma época; mas os detalhes não nos foram transmitidos.

Marcelino, bispo de Roma, que sucedeu a Caio naquela sede, tendo-se oposto intensamente a que se dessem honras divinas a Diocleciano, sofreu o martírio, mediante uma variedade de torturas, no ano 304, consolando sua alma até expirar com a perspectiva daqueles gloriosos galardões que receberia pelas torturas experimentadas no corpo.

Vitório, Caorpoforo, Severo e Seveano eram irmãos, e os quatro estavam empregados em cargos de grande confiança e honra na cidade de Roma. Tendo-se manifestado contra o culto dos ídolos, foram arrestados e açoitados com a plumetx, ou açoite que em seu extremo levavam bolas de chumbo. Este castigo foi aplicado com tão excesso de crueldade que os piedosos irmãos caíram mártires sob sua dureza.

Timóteo, diácono de Mauritânia, e sua mulher Maura, não tinham estado unidos mais de três semanas pelo vínculo do matrimônio, quando se viram separados um do outro pela perseguição. Timóteo, apressado por cristão, foi levado ante Arriano, governador de Tebas, que sabendo que guardava as Sagradas Escrituras, mandou que as entregasse para queimá-las. A isto ele respondeu: "Se eu tiver filhos, antes tos daria para que fossem sacrificados, que separar-me da Palavra de Deus". o governador, irado em grande maneira antes esta contestação, ordenou que lhe foram arrancados os olhos com ferros candentes, dizendo: "Pelo menos os livros não te serão de utilidade, porque não voltarás a lê-los". Sua paciência ante esta ação foi tão grade que o governador se exasperou mais e mais; por isso, a fim de quebrantar sua fortaleza, ordenou que o pendurassem dos pés, com um peso amarrado no pescoço, e uma mordaça na boca. Neste estado, Maura o urgiu docemente para que se retratasse, por causa dela; porém ele, quando tiraram a mordaça de sua boca, em vez de aceder aos rogos de sua mulher, a censurou intensamente por seu desviado amor, e declarou sua resolução de morrer pela sua fé. A conseqüência disso foi que Maura decidiu imitar seu valor e fidelidade, e ou bem acompanhá-lo, ou então segui-lo na glória. O governador, trás tentar em vão que mudasse de atitude, ordenou que fosse torturada, o que foi executado com grande severidade. Depois disso, Timóteo e Maura foram crucificados perto um do outro, o 304 d.C.

A Sabino, bispo de Assis, foi-lhe cortada a mão por ordem do governador de Toscana, por recusar sacrificar a Júpiter, e por empurrar o ídolo diante dele. Estando no cárcere, converteu o governador e sua família, os quais sofreram o martírio pela fé. Pouco depois da execução deles, o próprio Sabino foi flagelado até morrer, em dezembro de 304.

Cansado da farsa Deus estado e dos negócios públicos, o imperador Diocleciano abdicou à coroa imperial e foi sucedido por Constâncio e Galério; o primeiro era um príncipe de uma disposição sumamente gentil e humana, e o segundo igualmente destacável pela sua crueldade e tirania. Estes se dividiram o império em dois governos iguais, reinando Galério no oriente e Constâncio no ocidente; e os povos sob ambos governos sentiram os efeitos das disposições dos dois imperadores, porque os de ocidente eram governados da maneira mais gentil, enquanto que os que residiam em oriente sentiam todas as misérias da opressão e de torturas dilatadas.

Entre os muitos martirizados por ordem de Galério, mencionaremos os mais eminentes.

Anfiano era um cavaleiro proeminente em Lúcia, e estudante de Eusébio; Julita, uma mulher licaônia de régia linhagem, porém mais célebre por suas virtudes que por sua sangue nobre. Enquanto estava no potro, deram morte a seu filho diante dela. Julita, de Capadócia, era uma dama de distinguida capacidade, grande virtude e insólito valor. Para completar sua execução, derramaram breu fervente sobre seus pés, desgarraram seus lados com ganchos e recebeu a culminação de seu martírio sendo decapitada o 16 de abril de 305.

Hermolaos, um cristão piedoso e venerável, muito ancião, e grande amigo de Pantaleão, sofreu o martírio pela fé no mesmo dia e da mesma forma que aquele.

Eustrátio, secretário do governador de Armina, foi lançado num forno de fogo por exortar alguns cristãos que tinham sido apresados a perseverarem na fé.

Nicander e Marciano, dois destacados oficiais militares romanos, foram encarcerados por sua fé. Como eram ambos homens de grande valia em sua profissão, se empregaram todos os médios imagináveis para persuadi-los a renunciar ao cristianismo; porém, ao encontrar-se ineficazes estes médios, foram decapitados.

No reino de Nápoles tiveram lugar vários martírios, em particular Januaries, bispo de Beneventum; Sósio, diácono de Misene; Próculo que também era diácono; Eutico e Acutio, homens de Pueblo; Festo, diácono, e Desidério, leitor, todos eles foram, por serem cristãos, condenados pelo governador de Campânia a serem devorados pelas feras. Mas os selvagens animais não queriam tocá-los, pelo que foram decapitados.

Quirínio, bispo de Siscia, levado perante o governador Matênio, recebeu a ordem de sacrificar às deidades pagãs, em conformidade com as ordens de vários imperadores romanos. O governador, ao ver sua decisão contrária, o enviou a prisão, acorrentado, dizendo-se que as durezas de uma masmorra, alguns tormentos ocasionais e o peso das correntes poderiam quebrantar sua resolução. Mas decidido em seus princípios, foi enviado a Amâncio, o principal governador de Panonia, hoje na Hungria, que o carregou de correntes e o arrastou pelas principais cidades do Danúbio, expondo-o à zombaria popular por onde quer que passava. Chegando finalmente a Sabária, e vendo que Quirino não renunciaria a sua fé, ordenou lançá-lo no rio, com uma pedra amarrada no pescoço. Ao executar-se esta sentença, Quirino flutuou durante certo tempo, exortando o povo nos termos mais piedosos, e concluindo suas admoestações com esta oração: "Não é nada novo para ti, oh, Todo Poderoso Jesus, deter os cursos dos rios, nem fazer que alguém caminhe sobre as águas, como fizeste com teu servo Pedro; o povo já tem visto uma prova de teu poder em mim; concede-me agora que dê minha vida por tua causa, oh, meu Deus". ao pronunciar estas últimas palavras afundou de imediato, e morreu, no 4 de junho de 308. seu corpo foi depois resgatado e sepultado por alguns piedosos cristãos.

Pânfilo, natural de Fenícia, de uma família de estirpe, foi um homem de tão grande erudição que foi chamado um segundo Orígenes. Foi recebido no corpo do clero em Cesaréia, onde estabeleceu uma biblioteca pública e dedicou seu tempo à prática de toda virtude cristã. Copiou a maior parte das obras de Orígenes de seu próprio punho e letra, e ajudado por Eusébio, deu uma cópia correta do Antigo Testamento, que tinha sofrido muito pela ignorância ou negligência dos anteriores transcriptores. No ano 307 foi apreendido e sofreu tortura e martírio.

Marcelo, bispo e Roma, ao ser desterrado por sua fé, caiu mártir das desgraças que sofreu no exílio, o 16 de janeiro de 310.

Pedro, o décimo sexto bispo de Alexandria, foi martirizado o 25 de novembro de 311, por ordem de Máximo César, que reinava no leste.

Inês, uma donzela de só treze anos, foi decapitada por ser cristã; também o foi Serena, a esposa imperatriz de Diocleciano. Valentino, seu sacerdote, sofreu a mandamentos sorte em Roma; e Erasmo, bispo, foi martirizado na Campânia.

Pouco depois disto, a perseguição diminuiu nas zonas centrais do império, assim como no ocidente; e a Providência começou finalmente a manifestar vingança contra os perseguidores. Maximiano tentou corromper sua filha Fausta para dar morte a seu marido Constantino; ela o revelou a este, e Constantino obrigou-o a escolher sua própria morte, com o que Maximiano decidiu-se pela ignomínia de ser pendurado depois de ter sido imperador quase vinte anos.

Constantino era o bom e virtuoso filho de um pai também bom e virtuoso, e nasceu na Grã Bretanha. Sua mãe se chamava Helena, filha do rei Coilo. Era um príncipe muito generoso e gentil, tendo o desejo de cuidar da educação e das belas artes, e freqüentemente ele mesmo lia, escrevia e estudava. Teve um maravilhoso êxito e prosperidade em tudo quanto empreendeu, o que supus que provinha disto (o que assim era com certeza): que era um grande favorecedor da fé cristã. Fé que, quando abraçou, o fez com a mais devota e religiosa reverência.

Assim Constantino, suficientemente dotado de forças humanas, mas especialmente dotado por Deus, empreendeu caminho a Itália durante o último ano da perseguição, o 313 d.C. Majêncio, ao saber da chegada de Constantino, e confiando mais em sua diabólica arte mágica que na boa vontade de seus súbditos —vontade que bem pouco merecia—, não ousou mostrar-se fora da cidade nem se enfrentar com ele em campo aberto, senão que emboscou varias guarnições ocultas em diversos lugares estreitos por onde aquele deveria passar, com as quais Constantino se bateu em diversas escaramuças, vencendo-as pelo poder de Deus.

Não obstante, Constantino não estava ainda em paz, senão com grandes ansiedades e temor em sua mente (aproximando-se agora de Roma), devido aos encantamentos e feitiçarias de Majêncio, com as que havia vencido contra Severo, a quem Galério tinha enviado contra ele. Por isso, estando em grande dúvidas e perplexidade em si mesmo, e dando voltas a muitas coisas em sua mente, acerca de que ajuda poderia ter contra as operações de sua mágica, Constantino, aproximando-se em sua viagem à cidade, e elevando muitas vezes os olhos para o céu, viu no sul, quando o sol estava se pondo, um grande resplendor no céu, que parecia uma cruz, dando esta inscrição: "In hoc vince", ou seja: "Vence por meio disto".

Eusébio Pânfilo dá testemunho de que ele ouvu o próprio Constantino repetir várias vezes, e também jurar que era coisa verdadeira e certa o que tinha visto com seus próprios olhos no céu, e também os soldados com ele. Ao ver aquilo ficou grandemente atônito, e consultando com seus homens acerca do significado disso, então se apareceu a ele Cristo, convidando-o a tomá-la como sinal, e a levá-la em suas guerras diante dele, e que assim obteria a vitória.

Constantino estabeleceu de tal modo a paz da Igreja que pelo espaço de mil anos não lemos de nenhuma perseguição contra os cristãos, até o tempo de John Wickliffe.

Tão feliz, tão gloriosa foi a vitória de Constantino, de sobrenome o Grande! Pelo gozo e a alegria da qual os cidadãos que antes tinham mandado prendê-lo, o buscaram para levá-lo em grande triunfo na cidade de Roma, onde foi recebido com grandes honras e celebrado por sete dias seguidos; além disso, fez levantar no mercado sua imagem, sustentando na destra o sinal da cruz, com esta inscrição: "Com este sinal de saúde, o verdadeiro signo de fortaleza, resgatei e libertei vossa cidade do jugo do tirano".

Terminaremos nosso relato da décima e última perseguição geral com a morte de são Jorge, o santo titular e patrono da Inglaterra. São Jorge nasceu em Capadócia, de pais cristãos, e, dando prova de seu valor, foi ascendido no exército do imperador Diocleciano. Durante a perseguição, são Jorge abandonou sua comissão, foi valentemente até o senado e manifestou abertamente sua condição de cristão, aproveitando a ocasião para protestar contra o paganismo, e para indicar o absoluto de dar culto a ídolos. Esta liberdade provocou de tal modo o senado que deram ordem de torturar a Jorge, o qual foi, por ordem do imperador, arrastado pelas ruas e decapitado no dia seguinte.

A lenda do dragar, associada com este martírio, é usualmente ilustrada representando a são Jorge sentado sobre um cavalo lançado ao ataque, traspassando o mostro com sua lança. Este dragão ardente simboliza o diabo, que foi vencido pela firme fé de são Jorge em Cristo, que permaneceu imutável a pesar do tormento e da morte.

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